Era uma manhã de abril quando coloquei meus pés em Cuba pela primeira vez. No saguão do desembarque do aeroporto de Havana, estava o cubano dono da casa onde eu ficaria hospedada.
Um parênteses: A viagem foi totalmente imprevisível. Duas amigas do Rio comentaram que iam e me ofereci para ir com elas. Comprei a passagem com um mês de antecedência e fui.
Continuando… No caminho até a casa, em Habana Vieja, comecei a ter as primeiras lições desse país instigante. O anfitrião me perguntava entusiasmado sobre o Brasil e eu perguntava, mais entusiasmada ainda, sobre Cuba.
E a cada comparação com pingos de crítica que eu fazia, ele me respondia com: “nós temos segurança”, “nós temos educação”, “nós temos saúde”.
É, não seria fácil construir uma opinião sobre o país.
Andamos muito pela cidade, com olhares de espanto e de curiosidade. A cada conversa, mais questionamentos e menos respostas.
Lembro que caímos em alguns “golpes” de pessoas que vinham conversar e no final pediam dinheiro. E era a oportunidade para tirarmos dúvidas, apesar de não falarem sobre tudo.
Visitamos outras cidades que eram bem diferentes da inquietante Havana. Trinidad, por exemplo, é linda, bem cuidada, com muita cor e estilo colonial. Cuba me mostrou muita coisa.
Uma delas é que opiniões inflexíveis não levam a lugar nenhum. Na maioria das vezes, para construirmos nossa própria visão, precisamos ter o coração aberto. Para aprender e para mudar.
Foram nas conversas e imagens de Cuba que notei como nada é estático, perfeito, unânime. Sempre tem os dois lados. Sempre tem um “e se” ou um “mas”. E isso é sobre qualquer ponto da vida.
Essa pequena ilha foi o lugar que me tirou da zona de conforto. Ter que sentar em uma praça para buscar sinal de internet, porque não existe WiFi nas casas dos cubanos, é surreal. Usar mais as conversas do que o Google para tirar dúvidas. Usar o mapa em papel para se achar na cidade.
Assim como a cena de poder andar de madrugada pelas ruas de Havana, sozinha com a minha amiga, e não ter medo.
E também de quando fiquei ilhada em Trinidad, por causa da tempestade Alberto, e vi como o trânsito de informações é lento lá. Tinha que esperar os contatos telefônicos para saber se as estradas foram abertas.
No fim, um dos meus últimos dias em Cuba foi numa viagem de 6 horas, com as estradas alagadas, num carro da década de 50 e com outros viajantes da Suíça, Inglaterra, Austrália e México.
Coisas que você só vive quando vai. Gracias, Cuba!
E você? Lembra de algum lugar que te desconstruiu?
Foto: Nicole Guimarães. Trinidad / Cuba, 2018.
Impressionante como existem viagens que nos mudam e fazem valorizar tanta coisa que damos como garantida!
CurtirCurtido por 1 pessoa
A gente aprende muito caminhando por aí. Ainda não descobri nada melhor para se libertar do que viajar! Abraço em vocês!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Linda estória, Nicole, parabéns! A frase chave dela, na minha opinião, é a que vc cita as opiniões inflexíveis, como elas dificultam nosso crescimento pessoal. Muito legal!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Sim, dificultam muito! E estamos vendo isso no nosso país, né? Muita gente com certeza de muita coisa… não é bem por aí. Bom domingo!
CurtirCurtir
Legal Nicole! Gostei das suas histórias. Bjs!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Fico feliz! 🌷
CurtirCurtir
Era um dos países que eu queria conhecer por tudo que ouvir dizer e como não sou movida a opinião alheia, quis ir até lá. Me espantei com a sensação de ontem. Mas como eu não sou de pergunta, fui apenas observando os lugares, as pessoas.
MAs, de todos lugares que visitei foi São Paulo quem me tocou, tanto que me mudei para cá. E me considero desse chão. E o meu lugar no mundo. Minha porção de mundo. Bacio
CurtirCurtido por 1 pessoa
Que legal seu afeto com São Paulo! Eu já me sinto mais solta, não me vejo em um só lugar. Adoro Brasília, mas não me sinto pertencida. Amo meu Rio, mas não é o mesmo que deixei. Enfim, são muitas possibilidades que o “onde” nos traz. Boa semana para você! 🌻
CurtirCurtir
Sempre desejei conhecer Cuba, existiu um mas em todas as oportunidades e acabei não indo. De todos os lugares que conheço, o que mais fez com que houvesse identificação imediata foi Buenos Aires. Na primeira vez, caminhava pela cidade como tivesse nascido lá. E assim em todas as voltas a BUE. No Brasil, sem dúvida a vontade de morar e viver na serra gaúcha é imbatível. Às vezes, penso: tem cafeteria é o meu lugar. Um abraço e muito obrigado pelo post sobre Cuba, é importante sempre ler sobre.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Ótimo saber sobre seus lugares! E a graça é essa: ter e se ver em diversos lugares. Um só não basta 😉
CurtirCurtir
Bah! Esqueci de Delft na Holanda. Cidade encantadora, daquelas em ficaria o resto dos meus dias (que exagero) e outras três que me marcaram muito: Roma. Florença e Assis. Aqui na América, sem dúvida Cuzco e Machu-Picchu, não para morar mas pela energia que não sei descrever. Desculpe essa segunda parte. Abraço e tens razão, um lugar apenas não basta.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Viu?? Somos feitos de muitas cidades!!! Perú realmente é indescritível, também amei. E essa cidade da Holanda não conheci, já está anotado!
CurtirCurtir
Deve ter sido uma experiência e tanto.
O que achou da culinária de lá?
CurtirCurtido por 1 pessoa
Foi ótimo! Eu comi muito frango, era o mais comum. Os restaurantes não tem muitas opções de prato como estamos acostumados e era tudo básico, estilo nossos PFs. Carne bovina era o prato mais caro, lá não é fácil nem para os cubanos terem acesso a carne. Em Trinidad, comemos camarão e o preço era razoável. Coloca na sua lista de viagens! 🙂
CurtirCurtir