A beleza dos choques culturais

Tem vezes que faço aulas de inglês online com uma professora da Filipinas. No último encontro, estávamos conversando a respeito da situação do coronavírus e comentei sobre não saber se é bom o distanciamento brusco e duradouro com os idosos e as pessoas do grupo de risco. E ela me respondeu: Mas vocês não moram com suas famílias?

Ué! Uma hora precisamos sair de casa. E ela me contou que no seu país as famílias permanecem juntas. Por exemplo, ela tem 6 irmãos. Dentre eles, 5 estão morando em outras cidades. Mas ela, a irmã, o marido da irmã, a filha da irmã e a mãe moram juntos na mesma casa.

Deu um nó na minha cabeça. Eu perguntei: Como vocês conseguem? Não é um tumulto? E ela disso que é ótimo, no geral todos se dão bem. E que lá eles não têm essa preocupação com os idosos sozinhos, porque os pais e os avós nunca ficam sozinhos.

Ficamos sem saber se é característica da cultura asiática e as razões de ser tão diferente não só do Brasil, como da América como um todo e da Europa. Falei com ela que é tão óbvio o nosso precisar ir que a gente nem pensa no ficar. Para mim, o sair sempre foi a melhor opção. Não por querer estar longe da família, mas por querer viver em um lugar que me proporcionasse melhor qualidade de vida.

Enfim, fiquei com um nó na cabeça depois dessa aula/conversa. É aquilo: existem muitas formas de se viver e nossas escolhas podem ser boas para nós, mas não para todo mundo. Nem precisei viajar até a Filipinas para lembrar como os choques culturais têm suas belezas.

Foto autoral. Monterosso al Mare / Itália, 2019.

22 comentários sobre “A beleza dos choques culturais

  1. elcieloyelinfierno

    Boa reflexão! É o que acontece quando você viaja sozinho, entra em sociedades com diferentes culturas e princípios de convivência, conforme o caso, porque isso não acontece em todos os países asiáticos, já que em alguns deles, onde os idosos, eram venerados como verdadeiros patriarcas. altamente respeitados, hoje estão distantes e alinhados no estilo ocidental. Por outro lado, nas cidades do interior dos países latinos da Europa Ocidental, situações como as mencionadas nas Filipinas são observadas. Mesmo no Oriente Médio ou na Europa Oriental. Por esse motivo, cada cidade, cada lugar tem um microclima social diferente, que pode nos satisfazer da mesma maneira ou também nos surpreende de uma maneira desagradável. Uma cordial saudação.

    Curtido por 3 pessoas

    1. Verdade! Essa conversa lembrou muito os sentimentos de viagem, quando conversamos com alguém do lugar visitado e descobrimos coisas que nem imaginamos. Por isso é bom ir sem roteiro e com coração aberto para observar o diferente. E essa relação com a família é interessante, realmente não existe um padrão dentro dos continentes e países. Eu achava que no Brasil éramos muito apegados à família, com o depoimento dela vi que nem somos tanto assim. Um abraço!

      Curtido por 2 pessoas

      1. elcieloyelinfierno

        Muito obrigado; minha querida amiga. A soma dos critérios, às vezes, permite ver algo da realidade objetiva que, apesar de tudo, não existe, mas nos enriquece. Uma calorosa saudação.

        Curtido por 1 pessoa

  2. Lívia

    Ótima reflexão… Nossa cultura tá baseada no individualismo, né? Principalmente para classes mais privilegiadas… Pensarmos também que somos um país de migrante, pelo menos no Rio, quantos de nós não viemos de famílias com origem nordestina ou da zona rural? O sair é ganhar o mundo, fazer a própria vida… Muitas vezes morar com a família em países asiáticos também tem a ver com a religião e cultura de casamentos (por exemplo na Índia que as mulheres vão morar na casa da família do marido por casamento arranjado). Enfim, muito devaneios.

    O que me incomoda é o quanto a gente tem um padrão a ser aceito e o quanto ele é individualista… Mulheres que tem filhos, por exemplo, se não tem uma rede de apoio para ajudar a criar é impossível… Me lembra também algumas etnias indígenas onde as crianças são criadas por toda a comunidade…
    E aí, o que a gente acredita que pode dar certo pra gente? 🙂 Cada pessoa tem uma resposta.

    Curtido por 3 pessoas

    1. Muito feliz por te ver aqui, Lívia!! Você pode enriquecer muito as conversas. São muitos devaneios mesmo e dá vontade e entrar em cada questão para entender de onde saem tantas diferenças.

      Esse exemplo das mulheres que criam os filhos sem apoio da comunidade é a cereja do bolo. E ele entra em harmonia com o texto que você me encaminhou. Até a forma com que a sociedade impõe a responsabilidade na mulher é individualista. É conveniente colocar a responsabilidade em apenas uma pessoa e “tirar o corpo fora”. Cito muito esse exemplo de etnias indígenas que criam os filhos em comunidade, não são de responsabilidade de uma ou duas pessoas.

      Realmente o individualismo é a peça do quebra cabeça. E o que dá certo para um pode não dar certo para o outro. Temos que seguir nosso próprio fluxo e tentar ficar no lugar que mais soa saudável para nós. Adorei seus pontos de vista 🙂💜

      Curtir

  3. Convivi com uma guria da Malásia que contava que em seu país, independente da ordem de nascimento os meninos sempre tem preferência em tudo, e que as meninas só tem as coisas caso os meninos concordem. Achei isto muito estranho, e é claro que ela por ter as liberdades de morar sozinha na Europa não queria mais saber de voltar para casa. Eu perguntava se ela não sentia saudade da família, e ela dizia que a sua liberdade era mais importante que a família para ela.

    Curtido por 3 pessoas

  4. Aula de antropologia cultural com uma reflexão de antropologia filosófica… Em algumas regiões aqui do Brasil também é muito parecido com estes costumes da Filipinas, Índia, entre outros países… Por exemplo, partes do Norte, partes do Nordeste e até aqui no norte de Minas, isto é muito comum…

    Curtido por 3 pessoas

    1. Estevam, coincidências ou não, uma amiga minha de Belém disse exatamente o mesmo que você! No Norte parece que as famílias ficam presencialmente próximas ao longo da vida. Muda de uma cidade para outra, pelo visto. Não de país ou continente. Sempre ótimas suas pontuações!

      Curtir

      1. Lecionei um pouco de antropologia cultural e isto me fez estudar e ampliar muito a noção e importância da diversidade vista do pinto de vista do outro e do lugar do outro.. Fraterno abraço.

        Curtido por 1 pessoa

  5. Eu acho muito divertidas essas diferenças.
    Aprendemos muito e ao mesmo tempo, às vezes, ficamos meio chocados.
    Eu tenho duas histórias muito doidas sobre choques culturais que acho que será legal compartilhar, você me deu uma boa ideia para um post futuro! Obrigada 💕🌸

    Curtido por 2 pessoas

    1. Es enriquecedor el encuentro cultural con el prójimo, saberes y quehaceres que se complementan o nos enseñan. Filipinas, no sé si me equivoco, tuvo mucha influencia hispana por lo que fue la última colonia española y en esa amalgama quedaron costumbres tal como las familias numerosas características de los latinos. Gracias por compartir tus experiencias, ahora conversamos entre flores!!!🌹

      Curtido por 2 pessoas

      1. No sabía que Filipinas era una colonia española! Y hablan ingles! Qué curioso es todo. Aquí en Brasil, las familias son numerosas, pero la mayoría de los niños no viven con sus padres y abuelos cuando se convierten en adultos. Ella dice que en Filipinas viven todos juntos en la misma casa. Aquí no pasa. Y hablemos mucho entre flores! 🙂🌻

        Curtido por 1 pessoa

  6. Pingback: Há tanto no mundo – entre conversas e flores

Deixe um comentário