Memórias de colchonetes

Ao longo de uns 16 anos, todo mês de janeiro era certo: nós quatro íamos juntos para a casa de praia. Começou com o Fusquinha e parou no Astra. Tinha vezes que era aglomeração de primos, tios, amigos, cachorros. Foi a fase de bebê até a de ficar ansiosa para jogar vôlei de praia com a galera. Foram vários formatos de férias lá. 

Na época em que ela tinha mato ao invés de grama e colchonetes ao invés de camas, a rotina era tão gostosa. Meu pai ia com a gente para a praia de manhã, voltávamos para almoçar, tirávamos um cochilo e, por volta das quatro da tarde, voltávamos para a praia de novo. A música da caminhada era vamos a la playa… ô-ô-ô.

Minha mãe nunca gostou de praia, mas acompanhava. Lembro dela sentada na areia lendo livro e olhando de vez em quando para ver se estávamos perto. Ela teve uma fase de comprar roupas de banho florescentes para mim e para o meu irmão. Segundo ela, com as cores chamativas não perdia a gente de vista. Mas a nossa praia, naqueles tempos, era muito vazia. Eram poucas casas e pouca gente. Uma maravilha.

Foi nas férias de verão que vivi minhas descobertas da adolescência. Começaram as idas aos shows, os primeiros namoradinhos, as bebidas alcoólicas e as furadas. Ao mesmo tempo, também já começamos a diminuir o período de estadia na casa de praia. Pais sem tirar férias em janeiro, filhos querendo viajar para outros lugares.

A gente foi crescendo. Os amigos da praia também foram se dispersando. Hoje nem sabemos aonde a maioria foi parar. São engraçadas essas relações de verão. Tão intensas num curto espaço de tempo e, ao mesmo tempo, tão distantes. Enfim, a casa sempre esteve lá, esperando por um novo reencontro.

Acredito que minha paixão pelo mar começou por causa dela. Foram muitos mergulhos, tentativas de surfar, conchinhas coletadas e caminhadas na areia. E logo nos seus tempos áureos é que deixamos ela de lado. Olha que coisa. Hoje a casa de praia tem grama, pintura bonita, camas para todo mundo. Só não tem a gente. Lembrei que preciso voltar.

Foto: Arquivo pessoal. Sempre buscando as flores.

27 comentários sobre “Memórias de colchonetes

  1. Alex Antunes

    Bom dia, Nicole!
    Bonito texto! Tem o sabor de infância, a atmosfera da liberdade da adolescência e a emancipação da vida adulta.
    Você teve uma infância normal e feliz, por isso hoje é uma adulta bem-sucedida. Uma infância e adolescência felizes são fundamentais para o bom êxito na vida adulta.
    Obrigado por partilhar conosco, seus leitores, os momentos felizes da sua infância e adolescência.

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    1. Obrigada pelo carinho, Alex! Não sei se eu entraria como “bem-sucedida”, acho que todos nós temos nossas questões. Uns mais, outros menos.

      Mas, sem dúvidas, uma boa infância e uma boa adolescência afetam nossa vida como adultos. E muito disso é responsabilidade dos pais. Abraços pra você e boa quarta!! 🌻

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  2. Renata Rodrigues

    Lembranças mto lindas essas tuas Nicole…eu nao fui tanto assim à praia mas tenho boas lembrancas das vezes em que fui com a minha família…ano que vem quero ir..estou precisando…o Mar é tudo de bom.
    Tenha um abençoado dia!!

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    1. Mar é tudo de bom mesmo!! Engraçada essa questão de frequentar praia. Lembro quando conheci uma moça de SP em uma viagem e ela disse que tinha ido à praia pela primeira vez com 22 anos! Achei aquilo tão interessante… o Brasil é muito grande e, na verdade, são poucos que tem a praia por perto. E tomara que você vá ano que vem sim! Está todo mundo merecendo um bom mergulho 😍

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      1. Renata Rodrigues

        Sim é verdade Nicole…esse fator praia por perto..isso é para poucos os que a frequentam sempre desde a infância…acho que a vida por ser corrida dificulta um pouco..por isso da frequência em massa nos feriados e fim de ano🤔eu mesma conheci a praia o contato com areia,mar aos 11 anos.. de la para cá retornei a mesma acho que 3 vezes…mas sim quero mto ir ano que vem🙏..precisamos mto disso!!
        O pôr do sol visto de la nao tem igual😊😊
        Fica c Deus!!

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  3. Que texto belíssimo, Nicole. A minha família nunca optou por ter uma “casa de férias”, pelo que nunca tive exactamente estas vivências que estão descritas no texto. No entanto, ao ler, fez-me imaginar como seria caso essa “casa de férias de família” existisse. Muita coisa teria acontecido para originar muitas histórias! 🙂

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    1. Era muito comum no Brasil as famílias terem “casa de praia”, Miguel. Hoje em dia é bem mais difícil. Antes era mais caro viajar de avião ou pagar por hospedagem e também não era muito caro comprar uma casa. Hoje em dia temos mais facilidade para passar férias em diferentes lugares! Prefiro o novo modelo 😉

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  4. Também tenho tantas lembranças de praia. Era tão bom, e não sabíamos. A minha principal praia de infância mudou muito. Avanço do mar, perdeu sua beleza e tornou-se perigosa. A casa também está vazia, não só amigos se dispersaram, mas a própria família. Bateu muita saudade, Nicole.

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    1. Que coincidência! Nossas memórias são muito parecidas. Tem tantos anos que não vou na minha praia da infância, mas sei que está muito mais urbanizada e com mais gente. A família também se dispersou um pouco. Bom que temos histórias e saudades para lembrar (e escrever). Beijos! 🌷

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    2. Hudson José Capanema

      Lindo texto, lindas lembranças, Nicole! Eu tenho ótimas lembranças de minha infância, que, embora pobre, foi muito feliz! Mas nada de praia, só fui conhecer o mar lá pelos 20 e poucos anos. Nas férias escolares, Invariavelmente, íamos para as fazendas de dois tios, duas ou três semanas em cada uma. Andávamos à cavalo e de charrete e, principalmente, tomávamos o leite cremoso diretamente da vaca.
      Tanta coisa aconteceu, tanta coisa mudou, mas como é bom ter uma história feliz para contar.
      Caiu um cisquinho no meu olho de saudades e de gratidão por essas recordações!
      Obrigado! Bjs

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      1. Que lindo, Hudson! E eu já não tenho lembranças de fazenda e roça. Tenho uma amiga que também é de Minas e ela conta muita história! Bom da vida é ter experiências. E as da infância marcam muito a gente! Beijos e gostei do cisquinho no olho hahahaha

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  5. Que maravilha!
    Me vi na sua história, em casa também tivemos muitos momentos bons nas viagens de praia. E achei engraçado, pois minha mãe também comprava maiôs e biquínis florescentes para nós pelo mesmo motivo rs. E os guarda-sóis também eram sempre chamativos para encontrarmos fácil ao sair do mar. Lembranças maravilhosas, me fez viajar aqui 😊🌺💞

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  6. Que texto delicioso de se ler Nicole… “colchonetes” já dá esta ideia do ir e vir, da liberdade, do temporário e o que vale são os registros na memória! Estes são atemporais. Fui conhecer o mar depois de adulto e confesso, foi amor a primeira vista… ou melhor, amor a primeira visita rsrsrsrs. E como não poderia faltar, muita lembrança boa. Isto me remete ao seu texto anterior “Dia mais feliz da vida”, e me faz validar uma frase clichê: Recordar é viver! Adorei! Um beijo no coração!

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    1. Que maravilha receber seu comentário! Fico muito contente por ter conseguido transmitir boas sensações e lembranças! O mar é apaixonante, todo mundo deveria ter o direito de dar pelo menos um mergulho na vida. Obrigada! Beijão 🌷

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  7. Acabei de viajar na sua lembrança e como todos disseram, que texto! Lindas nem lembranças Nicole.

    A minha família alcançou o novo modelo das férias de verão, poucas lembranças lúdicas e vívidas como a sua, mesmo assim, importantes.

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