Fugindo de casa

A culpa da minha tentativa de fugir de casa foi do meu irmão, claro. Eu devia ter por volta de doze anos e ele dez. Meus pais estavam trabalhando e provavelmente era alguma folga da escola porque estávamos sozinhos em casa. A guerra começou logo cedo.

Era só uma televisão e eu queria assistir ao desenho que nem me lembro mais o nome e ele queria assistir Pokémon ou algo do tipo. Começou a confusão generalizada, nada de consensos. Nessa época, ele ainda não era maior do que eu, então eu arriscava cair nos tapas.

Como nada foi resolvido por vias democráticas, liguei para a juíza que estava disponível no momento e decretei: “Vó, você precisa vir aqui em casa porque estamos quebrando o pau e eu não aceito assistir o que ele quer de novo. Caso você não apareça, eu vou fugir”.

Dito e feito. Minha vó apareceu lá depois de uns cinco minutos e não me encontrou. A pobrezinha ficou doida e ligou para os pais de amigos, foi me procurar nas casas de conhecidos, chorou. E meu irmão sem mexer uma palha, obviamente, e assistindo seu desenho na maior paz.

Depois de não me encontrar, minha vó voltou para a casa dos meus pais e estava prestes a ligar para eles para avisar da minha fuga. Até que, como se nada tivesse acontecido, eu saí de trás da porta do banheiro, caminhei até a sala e disse: “Oi, vó, estou aqui. Foi só para você aprender a me ouvir”. Pré-adolescentes…

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Foto autoral. Flores de amor / junho, 2021.

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