Não pode mentir, tia

Ser tia é uma das experiências mais incríveis da minha vida. Acompanhar o crescimento de uma criança é mágico, potente, encorajador. Como pode aquele serzinho que nem sabia andar já estar craque no videogame? Como pode ele já estar lendo tudo e fazendo perguntas que nem sabemos responder direito?

As crianças chegam ao mundo com todas as potências necessárias para torná-lo melhor. Pelo menos é essa a minha teoria. Dia desses, por exemplo, estava de babá-tia e alguém bateu na porta. Tomás olhou para a minha cara e disse: “tia, pode ser alguém bom ou alguém mau, não vamos abrir, não”.

Segui o conselho do mestre e esperei mais um pouco. Bateram de novo e resolvi abrir para ver quem era. Para nossa surpresa, era o Dani, amigo de condomínio do Tomás. O pai perguntou se eles poderiam brincar um pouco juntos. Crianças precisam de crianças. Eu disse que sim, claro.

Mas dentro da minha cabeça só pensava: “como vou segurar duas feras de cinco anos???” Os dois correram para todo canto, colocaram todos os brinquedos no chão, montaram um robô e depois pegaram um celular velho com jogos. Até que o Dani lembra: “Tomás, minha mãe proibiu telas porque fiz tolice”.

Tentei acalmá-lo: “tudo bem, Dani. Foi só um pouquinho. Não precisa falar nada, não”. Com seus olhinhos curiosos, carinha fofa e dentes de leite, falou na lata: “Mas eu não posso mentir, tia. É feio”. Recolhi minha pequeneza de adulta e sorri pra ele. Está certo, Dani. Há muito o que aprender com as crianças.

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Foto autoral. Praça Batista Campos, Belém / julho, 2021.

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