“Clientes sentados na área externa não podem ficar mais do que 90 minutos”, dizia a placa do restaurante mexicano de Ellicott City, em Maryland. Minha reação é sempre pensar o quão isso é bizarro. Acostumada a sentar nos bares da vida e papear horas adentro, garçom trazendo a conta sem eu pedir nunca será normalizado. Sim, é raridade nos Estados Unidos esperarem você pedir a conta.
São tantas camadas aí. O que penso é na ausência de espontaneidade, do se deixar levar. Tão raro de se vivenciar aqui. Meu evento favorito em terras estadunidenses foi em um barco da marinha Argentina. Foi daqueles negócios que caem do céu. Uma pessoa que havia sido convidada e sabia que eu sou brasileira perguntou se não queríamos ir no lugar dela e da esposa.
Sem pensar duas vezes, já disse que claro. O barco era lindo. Todos super arrumados num estilo meio réveillon. Pôr do sol perfeito. Entrando no barco, apertamos as mãos até do embaixador da Argentina. Não conhecíamos ninguém, mas havia um sentimento de pertencimento que não consigo explicar. A música ao vivo, vinhos, comidas que não paravam de passar.
A festa foi acabando e ninguém nos expulsou do barco. Ninguém disse que só teríamos mais cinco minutos. Pelo contrário, me vi numa roda de conversa com brasileiro, argentino, peruano, paraguaio. Depois andamos pelas ruas, tentamos uns bares e terminamos no terraço de casa batendo papo até cinco da manhã. Essa noite me lembrou como tenho repulsa ao controle, principalmente do tempo.
Quanta conversa boa poderia surgir depois dos 90 minutos, quantas amizades poderiam ser criadas, quantas risadas poderiam ser dadas, quantas outras comidas poderiam ser experimentadas. Tanta coisa pode acontecer sem a limitação do tempo. Nunca é cedo demais, nunca é tarde demais. Sigamos o fluxo que nosso coração indica. Não limitemos o nosso próprio tempo.
Abraços de uma alma orgulhosamente latina.
Levam ao pé da letra o tempo é dinheiro!
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