A benção da frustração

Eu nunca chorei tanto me sentindo frustrada como nesses quase 3 anos (tempo voa!) morando nos Estados Unidos. Não me interprete errado. Reconheço meus privilégios, sou grata pela minha vida aqui, minha família, meus amigos, etc. Mas vira e mexe me sinto frustrada. A razão dessa frustração em quase novena por cento das vezes está ligada ao lado profissional.

Não é fácil ser imigrante. Não é fácil recomeçar. A verdade é que essa frustração vem também junto com uma parcela de preguiça. Eu estava na zona de conforto no Brasil. Servidora pública, morando numa cidade ótima, com dinheiro no bolso para viajar. Mas eu não estava em um cargo que achava ser justo para mim. Mesmo que eu trabalhasse muito, eu nunca iria crescer. Eu era transferida por ser ótima profissional para os “lados”, nunca para “cima”.

Olhar para o mercado de trabalho nos Estados Unidos me dá nervoso. Ao mesmo tempo que são tantas oportunidades, não é fácil consegui-las. Para quase tudo, leva tempo, preparação, conexões. Para minha sorte, tive uma primeira oportunidade que foi ótima para meu aprendizado. Vi como era a cultura de trabalho americana, tive chance de assumir cargo de liderança, conheci muita gente e, talvez o principal, eu vi que sou excelente.

É importante reconhecermos quando somos excelentes em algo. Principalmente nós, mulheres, que vez e sempre nos auto sabotamos e pensamos que certos lugares não são para a gente. Por dois anos, falei inglês fluentemente, me comuniquei com refugiados de países como Afeganistão e Ucrânia sem nem falar a língua deles, escrevi longos e-mails, fiz apresentações, me desafiei. Acredito que pela primeira vez, no âmbito profissional, eu realmente dei meu máximo.

Mas a vida veio para dar mais uma sacudida. Sem licença maternidade e sem proteção trabalhista – realidade terrível dos Estados Unidos, me vi com minha bebê nos braços tendo que pensar: “o que eu faço agora?” É estressante, não vou negar. Mas Deus é tão bom que um dia recebi uma ligação de alguém que nem sou próxima e ela comentou que, na verdade, eu não estar mais trabalhando era uma benção.

Essa mensagem me deu um alívio tão grande. É verdade. Agora posso ter um pouco de paz cuidando da minha filha e também organizar a minha mente para saber se quero qualquer coisa ou se quero o que pode realmente me fazer feliz e usar meus talentos. Ainda não tenho a resposta, mas sigo em movimento estudando e explorando as possibilidades. O que tenho certeza dessa vez é que quero dar cada passo consciente, sem a pressa de “ter que me livrar logo”.

Até a próxima!

Beijos,

Nicole

7 comentários sobre “A benção da frustração

  1. Fico tentando imaginar o desafio, o mundo pós pandemia, a maternidade, a imigração. Nunca deve ser fácil, mas com certeza deve ser muito recompensador. Eu tive a sensação de que não há melhor lugar que a nossa terra, imigrante será sempre imigrante. Mas também penso o quão legal deve estar sendo esta etapa de sua vida. Um forte abraço

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    1. Concordo plenamente com você. Não há lugar melhor que a nossa terra. Sinto muita falta! Mas também adoro o privilégio de explorar o novo. É desafiador e às vezes muito cansativo, mas também dá uma vidrada na alma, tira da zona de conforto e faz a gente crescer muito como indivíduo no mundo. E aqui me deparei com realidades que nunca vi no Brasil, como a dos refugiados, por exemplo. É muito rico! Abração e desculpa a demora pra responder 💚

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