Família fora da caixa

Era véspera de dia dos pais e todos estavam falando sobre uma campanha publicitária com pai transgênero. Como todos os outros assuntos do momento, o material entrou no ringue do cancelamento e não cancelamento.

De um lado, aqueles que criticavam um homem trans por querer ocupar o papel de pai. Do outro, os que defendiam que ser pai não tem nada a ver com gênero. Os debates despertam um outro questionamento: O que é família, afinal?

Ponto em comum que não podemos negar é: família é um negócio engraçado. Ou trem, como dizem os mineiros. Briga, ama, confunde, abraça. São diversas as formas de se familiarizar. Com amigos, dois homens, duas mulheres, um homem e uma mulher, avós, mãe solo. E tudo vai se afinando. Ou não.

Gênero? E isso importa? Só precisa de amor para ser família. De paz, convenhamos… nem sempre. Tem nada nesse mundo que aperte mais o coração do que a família. Não importa estrutura, cor, classe, localização. Família é tudo igual e causa preocupação.

Se anos atrás era óbvio definir grupo familiar como casal hétero, dois filhos e um cachorro, nos dias de hoje extravasamos essa caixa. Pulamos para fora dela. Estamos vendo que amor e afinidade ultrapassam padrões e as opções são múltiplas. Quiçá, infinitas.

O que importa, no fim das contas, é o afeto entre os indivíduos, é o querer bem. E o que faz um pai transgênero não ter sua família socialmente aceita? Por que não se encaixa? Eu não faço ideia, se souber, me conta.

Foto autoral. Imagens da seca / Brasília, 2020.

17 comentários sobre “Família fora da caixa

  1. Matheus S.

    O pai, no Brasil, é uma instituição ficcional. Milhares de famílias são constituídas de mães solteiras. Em 2010, se não me engano, eram mais de 35%, contra apenas uns 20% de famílias tradicionais (pai, mãe e filhos). O resto são famílias de outras configurações, crianças criadas por outros parentes, casais sem filhos e um mínimo irrisório de pais solteiros. Mas isso não é uma discussão que interesse a essas pessoas. A preocupação com uma suposta paternidade tradicional é uma desculpa para demonizar conquistas sociais de grupos minoritários.

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    1. E é bizarro como a maioria ainda não enxerga essa realidade. É tipo uma ilusão coletiva de que todo pai hétero biológico exerce de fato o papel de pai… e todas as outras configurações de família que, no meu ponto de vista, têm funcionado lindamente não existissem. Ai ai…

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  2. mariogordilho

    Nicole, é uma pena que estejamos nos anos 20 do século 21 discutindo gênero como definidor de família. Família é amor e ponto. Sexo é complemento do amor, uma forma de expressá-lo, não de o definir. A discussão em torno da publicidade com o pai trangenero só ocorreu porque estamos no meio dessa guerra ideológica insana. Somos um país culturalmente atrasado, e muito. Infelizmente. Deus une o amor. Quem unia um homem a uma mulher era Moisés, pois a procriação era essencial para as pretensões dos hebreus se estabelecerem como um povo. Jesus nunca ratificou esse pensamento. O foco dele era o amor, incondicional, sem adjetivações. Tomara que isso tudo seja só uma onda passageira e que, lá na frente, a gente foque no que de fato é importante: educar nossas crianças, dar condições melhores para seu desenvolvimento, sejam elas criadas por um casal hetero ou por um porco espinho. E que, de posse de cultura, elas tenham capacidade de discernir por si mesmas o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que é mau.

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    1. Também não entendo como ainda existe preconceito em relação às configurações familiares. Eu não alcanço. É tão bizarro pra mim que não consigo entender qual é o problema. Também torço para que as visões limitada e atrasadas se dissolvam por aí!

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  3. elcieloyelinfierno

    Entrada segura para o debate! Alguém que viveu o suficiente; e com a mente aberta desde a juventude, o sexo do parceiro, do casamento ou do ganha-pão é indiferente. O que realmente me preocupa é que a família, como núcleo de toda a sociedade, está em crise profunda há décadas. Melhor situá-lo no pós-guerra do século 20, e mesmo os sociólogos e pesquisadores de diferentes disciplinas não sabem onde vai parar. Desigualdade, individualismo extremo, ego suicida, falta de paz, fome, falta de misericórdia, perda de valores morais e espirituais … entre muitos outros aspectos, Cambalache de Enrique Santos Discepolo- “É igual ser honesto que traidor ou ver llorar da Bíblia ao lado do calefon da água ”, escrito há pouco mais de um século, continua a definir o mundo que habitamos. Concidência, hoje mencionei a Discepolin em três comentários. Casual ou causal? Uma saudação cordial.

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    1. A família como tradicionalmente conhecemos realmente está em crise. Por que será? Em parte, tem a ver com nosso individualismo crescente. Mas, por outro, acredito que tenha a ver com o desapego às estruturas e a vontade de amar além das obrigações. É uma mistura de coisas, não é?

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      1. elcieloyelinfierno

        Tão claro como água cristalina, escorrendo do topo da montanha …entre dezenas de aspectos que não poderiam ser explicados em profundidade aqui. saudação cordial.

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  4. Para variar construímos no bojo da Revolução Industrial do século XIX, uma família ‘ideal, chamada de nuclear (homem, mulher, filhos, e à época, na Europa, pasme, já com diminuição de filhos), espelhada na suposta Sagrada Família (José, Maria e Jesus). Aliás, esta ideia de Sagrada Família, foi criada exatamente para servir de espelho na autora do Revolução Industrial. Isto é, esta imagem é muito recente. Até porque entre os judeus do tempo de Jesus, família incluía, por exemplo, os tios e primos. Por isso, por vezes Jesus parece agir de forma áspera com Maria, sua mãe, quando se refere chega a dizer, meus irmãos são todos aqueles que estão lá fora (exegeticamente, estes que estão lá fora), é muito provável que sejam seus parentes mais próximos, como primos. Vale ressaltar, anda, que Maria era muito jovem e, José, já de idade avançada para aqueles tempos, cuja expectativa de vida era bem mais baixa. E, Maria, engravida, do Espirito Santo, por meio do anúncio de um ‘anjo’. Toda vez que alguém quer debater sobre uma imagem perfeita de família, em geral, eu desafio o debate começar pela ‘perfeição’ da Sagrada Família. Quase sempre, o debate é abortado…

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    1. Que aula, Estevam!!! Adoro seus comentários. A noção tradicional de família é tão imposta na nossa cultura que nem questionamos de onde essa ideia vem. Muito do que você explicou eu nem sabia, embora tenha noção de que a “família tradicional” seja algo imposto goela abaixo a partir de acontecimentos históricos/políticos. E também está tudo bem ter famílias dentro desse padrão, o ruim é quando parte da sociedade não aceita “modelos” diferentes. Obrigada!

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      1. Muito de nossas instituições matam nossas intuições, assim, preferimos acomodarmos a uma realidade momentânea como se fosse eterna, diante de nossa efemeridade individual…

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  5. Renata Rodrigues

    Tema complexo e delicadissimo so agr depois de muito pensar venho deixar meu comentario a respeito…e fato o preconceito existe fortemente quando o assunto e familia não convencional…o que me deixa triste porém procuro nao deixar essas coisas me atigirem…e pena as pessoas ainda se prenderam a tabus,preconceitos…acredito sim que o que reje uma familia seja ela formado como for o amor,afinidades,respeito e que me desculpem mas mta das vezes presenciamos a carencia de amor afeto nas tais familias tradicionais…nao estou aqui para dizer o que e certo ou errado…nao cabe a mim tal julgamento por mais que julgada eu seja..sim fui muito julgada e ainda sou pela minha decisão de me assumir…paguei e pago o preço por isso…mas nao faz mal sigo de cabeca erguida coracao e alma em paz pq sei quem sou,o pq de minha decisão no passado,sei q ela fez pessoas sofrerem por nao aceitarem o fato…mas ando de alma lavada pq nao enganei ninguém apenas tirei e precisava tirar o peso sobre mim por saber que diferente eu sempre fui…mas por medo e falta de coragem o tempo passou e so dps de muitos anos tomei a decisao que nao me arrependo apesar de no caminho ter errado em algum momento o que foi inevitável e sigo enfrente com Deus a olhar por mim…então digo a quem quer q seja..nao julgue nao condene nós os homoafetivos so somos diferentes por escolhermos amar pessoas do mesmo sexo de resto somos iguais a todos..com coração,sentimentos

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    1. O que importa é o amor!!! Sempre. E se já é difícil pra mim quando querem me encaixar em alguma coisa, imagino como deve ter sido para você tirar o peso das costas e assumir seus sentimentos! Parabéns e desejo toda felicidade do mundo pra você!!! ✨💚

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      1. Renata Rodrigues

        Sim …o importante nesta vida e sem dúvida o amor..sentimento sublime divino que Deus nosso Pai assim nos deu…mas que poucos percebem a importância dele em nossas vidas…é o amor fraterno universal sem preconceitos que realmente vale…sim de fato para mim foi realmente muito difícil..mas passou gracas a Deus..agora e seguir enfrente…e tbm desejo a vc toda felicidade do mundo Nicole de verdade!! Fica c Deus

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