Olhos sensíveis

Algumas experiências deixaram meus olhos mais sensíveis à realidade brasileira, como ter morado na Baixada Fluminense, crescido filha de policial militar no Rio de Janeiro, andado de trem no ramal Japeri-Central do Brasil, vivido em Belém por três anos e depois em Brasília por mais três anos.

Porém, talvez a mais forte – e que eu ainda não mencionei – seja ter estudado com pessoas que entraram na universidade a partir da política de cotas. Parte das vagas eram reservadas para estudantes oriundos de escolas públicas, negros e indígenas.

Se eu não tivesse convivido com eles, com certeza, não saberia quase nada sobre a vida. Enquanto eu recebia mesada, meus amigos dependiam de auxílio financeiro para conseguir pagar a passagem de trem ou de ônibus para chegar até a universidade. O dinheiro deles era contado.

Eu estive cara a cara com o Brasil real. Achava ruim passar uma hora no trem, mas tinham outros que passavam duas e ainda precisavam fazer longas caminhadas até chegar em casa. Lembro sempre da Isabel, com seu jeito serelepe. Ela morava em Belford Roxo e estava construindo sua casa no terreno que a mãe deixou.

Na minha cabeça, era uma casa com quarto, banheiro, cozinha, sala de estar. Só que não. Isabel me disse que era apenas um cômodo. Ela estava feliz da vida colocando o sonho de pé e vivia sorrindo para todo mundo. Eu me perguntava como era possível. Não sei como ficou a Isabel, mas sempre me lembro dela.

Obrigada pela sua leitura!

Com amor,

Nicole

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Foto autoral. Cenas da Amazônia, Ilha do Combú / Julho, 2021.

2 comentários sobre “Olhos sensíveis

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