Sábado nublado, metrô demorando mais do que o normal. A estação da Saens Peña vazia, deu até para sentar no banco. Estava distraída no celular até que ouço uma voz: “Oi, será que você poderia me ajudar com esse laço? Mulher tem mais habilidade”. Era um homem embrulhando um presente.

“Olha, eu não levo jeito nenhum, mas posso tentar te ajudar”. Ele começou a me contar que o presente era para a filha que estava fazendo nove anos. A festa estava acontecendo na casa da mãe da menina, onde ela mora. Disse que ela gosta de estudar, então comprou um jogo com conteúdo de ciências, história e geografia para ela brincar com a mãe durante a semana.

A festa começava às quinze horas, na Pavuna. Já passava das quinze e trinta e ele levaria, no mínimo, quarenta minutos até lá. Num primeiro momento, minha reação foi achar legal o pai preocupado em deixar um embrulho bonito para a filha. Mas depois pensei: por que ele não está lá organizando a festa dela? Por que não é ele que estuda com a filha?

A vida me apresentou esse pai, mas me apresenta muito mais mulheres-mães que criam seus filhos sozinhas. Mulheres que ficam a semana inteira com as crianças e o pai pega de quinze em quinze dias. Mulheres que engravidam e o pai simplesmente some como num passe de mágica. Mulheres que mesmo casadas organizam tudo da vida dos filhos.

As únicas coisas que apenas a mulher pode fazer, que eu me lembro agora, é parir e amamentar. O resto, meu amigo, é missão de todo mundo. Mulher não coloca filho no mundo sozinha. Ser pai não é postar foto em rede social, pegar nos finais de semana e deixar para a vó cuidar. Ser pai vai desde trocar fralda a colocar para estudar. Não quer encarar? Use camisinha.