Foi em um dos vários voos do Rio para Belém que li um texto sobre como a vida de quem inventa voar é paradoxal.

Lembrei do dia em que olhei Belém do avião pela primeira vez. O maior frio na barriga que senti na vida. Me inspirei… Quem escolhe alçar voos distantes vivencia os extremos mundos do querer estar “aqui” e do querer estar “lá”.

É inevitável e acredito que sempre será assim. Claro que a gente queria almoçar todos os domingos na casa da vó. Claro que a gente queria ver o sobrinho andar pela primeira vez. Claro a gente queria desabafar ao vivo com o pai e a mãe. Claro que a gente queria estar presente em todas as datas comemorativas.

Claro que a gente queria estar no lugar que pertencemos.

Só que também queremos estar em tantos outros lugares. Também queremos viver o novo e buscar mais novidades ainda. Também queremos saber até aonde podemos chegar. Também queremos sentir a alma livre. Também queremos não ter uma vida morna. Também queremos ter mais experiências de “primeira vez”.

Também queremos mudanças.

A vida abre caminhos que surpreendem a gente e cabe a nós termos a coragem de avançar ou não. O preço é alto, mas cada choro de despedida, cada questionamento e cada momento de desespero são capazes de trazer pessoas incríveis, lugares fantásticos e momentos únicos. E trouxeram. E trazem. E eu sempre embarco de volta.

Foto: Em Alter do Chão, Pará, 2015.