
Não imaginaria que o trem pudesse se transformar em um lugar de descobertas. Sentia tanto sofrimento, cansaço e até angústia quando não tinha outra opção a não ser me deslocar em pé dentro dele. Eram raros os momentos sentada. Hoje, que tenho o privilégio de poder escolher ir ou não de trem, vejo que passei a prestar atenção em algo que antes não conseguia: as pessoas.
A porta abriu, tinha alguns lugares vazios no vagão. Vi uma mulher de costas, com rabo de cavalo, e resolvi sentar do lado dela. Logo o silêncio foi quebrado com ela reclamando em voz alta que os vendedores ambulantes estavam debochando dela. Confesso não ter percebido nada.
Em seguida, me mostrou o celular com fotos dos gatinhos: um amarelo, um preto e branco e outro todo branco. Contou a história de como adotou cada um, as razões pelas quais prefere gatos do que cachorro. Papo vai, papo vem, me contou da igreja. Disse que tem feito bem para ela, principalmente as doações de comida e de roupa.
O líder religioso enfatiza que ela vai encontrar o caminho de Deus. Fico meio desconcertada nesses momentos, sem saber até onde ir. Minha fala se restringiu a “Deus é amor, não julga, não vê ninguém melhor do que ninguém”. A transformação da Rebeca começou aos dezesseis anos, hoje tem trinta e dois.
Ela também sente falta do Sol. Contou que nem está podendo se bronzear na laje da moça da favela. Paga trinta reais, colam umas fitas para ficar a marca de bikini e passam a tarde ouvindo música e zoando os homens que olham pelas janelas. “Mana, já grito logo: sou trans, hein!!!” Não achei que essa viagem até a Central do Brasil renderia tanto. Vida longa à Rebeca.
Até a próxima crônica!
Com carinho,
Nicole.
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Saludos Nicole, interesante el tema, si ser gentil es mejor para vivir bien. Saludos Juan
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Gracias, juan!!! Saludos 🌻
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