A contadora de histórias

Foto autoral. Aguardando o inverno / novembro, 2021.

Tem gente que vem para essa vida com umas missões especiais. Mary é uma delas. Indígena nascida em Chickasaw, filha de mãe alemã e pai indígena, ela veio ao mundo para quebrar barreiras, desconstruir, abrir portas. Foi a primeira indígena a ingressar na Universidade de Oklahoma para Mulheres, no início dos anos 1900, e a primeira a contar as histórias de seu povo a um presidente dos Estados Unidos.

Mary, mais conhecida como Te Ata, tinha uma força que a impulsionava em direção a algo que ela não conseguia ver. Ela seguia os caminhos que a vida ia mostrando, guardava os não, abraçava os sim. E ia, mesmo com todos os preconceitos que a cercavam, em um país que chegou a proibir até a venda de artesanato e de manifestações culturais dos povos originários.

Foi a universidade que abriu seus olhares para a missão que tinha no mundo. Uma professora viu seu talento para contar histórias e começou a instigá-la para compartilhar os contos do seu povo. Ela sentiu medo, muito medo. Por que aquelas outras alunas que olhavam estranho para sua aparência ouviriam suas histórias? “As pessoas rejeitam aquilo que não conhecem, por isso precisamos falar o que sabemos”, ela ouviu.

Quando Te Ata subiu no palco foi daqueles momentos que falamos: era para ser, é o lugar dela. O brilho respingava em todos ao redor, mostrava a música do seu povo, a língua, a cultura, as lendas. Tudo que os livros ainda não contavam. Ela atravessou o país, deu voz aos que eram silenciados, abriu portas para os que vinham, conheceu seu companheiro de vida.

Imagina se o medo tivesse falado mais alto, imagina se sua família tivesse cortado suas asas, imagina se ela não tivesse seguido o coração. Te Ata, através da sua existência, inspira a dar espaço, a pegar uma cadeira e, humildemente, ouvir o que o outro tem a dizer. Porque a gente não sabe tudo.

Coincidências ou não, conheci Te Ata através do filme que conta sua história de vida, em 3 de dezembro, dia do seu aniversário.

Até a próxima crônica!

Com amor,

Nicole.

4 comentários sobre “A contadora de histórias

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