No filme “Até a próxima vez”, Salvador e Ariana iniciam uma discussão no meio da trilha para Macchu Picchu, no Peru. Ele um arquiteto viciado em trabalho. Ela dona de hostel e artista de alma viajante. A peruana rebate dizendo que ele vive para colocar dinheiro no banco, enquanto ela vive para ter tempo para ela. “Esse é meu luxo”, disse Ariana.

De imediato, eu me identifiquei com a afirmação dela e me conecto quase que integralmente com a ideia de não viver apenas para acumular dinheiro. Mas o ponto alto da discussão deles, para mim, não foi esse argumento, mas sim o que o espanhol joga no colo dela logo em seguida.

“Você vive viajando, fugindo. Não quer encarar uma situação, pega a mochila e foge”. Foi mais ou menos isso que Salvador falou. Opa! Mais uma frase que me pegou. É um bálsamo poder escapar de algumas situações desconfortáveis arrumando a pequena bagagem e dando “até logo” para os conflitos.

Porém espera aí. Será que só quem se desapega mais fácil dos lugares ou das pessoas está fugindo? Ou gosta de fugir? Quem trabalha loucamente e mal conversa com quem mora na mesma casa não está fugindo de alguma coisa? Até uma cervejinha com os amigos é uma fuga. Ler livros de fantasia por horas é uma fuga. Colocar um fone de ouvido e sair para caminhar é uma fuga. Quem é que não foge?

Fugir nem sempre tem viés negativo. Tem horas que é necessário, como um instinto de sobrevivência, um refresco para a alma. Existindo honestidade consigo e com as pessoas afetadas, que mal tem fugir? O questionamento muda, então. Já que todo mundo está fugindo de alguma coisa, eu te pergunto: qual seu meio de fuga preferido?

Obrigada pela sua leitura!

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