A árvore atravessou todo o inverno: temperaturas abaixo de 10 graus celsius negativos, chuva congelante e neve. Observo pela janela e vejo as primeiras folhas verdes surgindo. A primavera está transformando aquela árvore que um dia estava completamente seca, sem cor, sem vida.

É bonito ver as mudanças da natureza. Isso me lembra voo. Aquele voo que nos transforma, que nos mostra novos olhares sobre a vida, que nos apresenta novas pessoas e novos caminhos. Podemos voar sem sair do lugar. Podemos voar sem nos deslocarmos fisicamente, de forma literal.

Explico. Tem gente que muda de cidade, de trabalho, de relacionamento, mas não voa. Segue olhando para os mesmos cantos, preso nas ideias de sempre, sem abertura para desvios de percurso, sem prestar atenção nas pessoas.

Por outro lado, há gente que escolhe ficar e se transforma e reaprende a cada nova estação, como a árvore que atravessou o inverno sem tirar as raízes do chão. Voar é coisa de alma, tem a ver com o jeito com que escolhemos caminhar pela vida e como cultivamos nossos encontros.

Lembro de um amigo que tem a idade do meu pai e quando nos conhecemos foi quase um choque de opostos. Ele trabalhava no mesmo lugar há mais de 25 anos e morava em Brasília pelo mesmo tempo. Enquanto eu já estava na terceira cidade. Não quer dizer que eu voo e ele não voa.

Ele é uma das pessoas mais alto astral que eu conheço e com uma história de vida para lá de inspiradora. Se ele brincava que estava passando por aulas intensivas de feminismo comigo, eu estava aprendendo a julgar menos as pessoas que escolhem caminhos diferentes do meu. Estávamos voando. Cada um voa à sua maneira. O voo está dentro da gente.

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Obrigada pela sua leitura!

Beijos,

Nicole

Foto autoral. Baltimore na primavera / abril, 2022.